quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Voltei pra Caxanga!!!


Como estou retomando as atividades da Caxanga do Capeta, achei pertinente rever o porquê este blog começou. Sou musicista, e o único fundador da banda Exu do Raul que continua trabalhando no grupo. Com a constante busca em compreender o contexto sociocultural que envolve a interface África/Brasil, fui me aprofundando no estudo das representações simbólicas acerca do conceito de bem e mal que cerca o orixá Exu. Um dos meus objetivos é conhecer um pouco mais a respeito da religiosidade afro-brasileira, fazendo o com que o leitor perceba que a mesma é parte integrante da nossa cultura, além de desfazer equívocos evidenciados sobre a religiosidade, como por exemplo, a confusão entre Exu e o Demônio. O interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pelos muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros, centrados na expressão e evolução histórica da cultura afro-brasileira.

Para atingir meu objetivo julgo importante contextualizar nossos valores adquiridos desde a antiguidade. Por exemplo, pensemos na noção de Diabo, o grande personificador daquilo que se costuma denominar o mal. Ao contrário do Novo Testamento (NT), no Antigo Testamento (AT) o conceito do mal não existe de forma personificada e autônoma em relação a Deus. Na visão monista – chama-se de monismo (do grego monis, "um") às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, à afirmação de realidades separadas – característica do AT, a soberania absoluta de Deus não é ofuscada por nada. Deus é o autor de todas as coisas, sejam elas compreendidas como boas ou más pelo ser humano. No campo da filosofia da Grécia Clássica, Platão é o pensador que mais influenciou o cristianismo. Para ele, o mundo das idéias é real, bom, perfeito. Se o mal consiste da falta de perfeição e o mundo fenomenal não reflete ao mundo das idéias de forma adequada, na medida em que isso ocorre, torna-se menos real, menos bom, logo, torna-se mais mal. Alguns autores se referem ao cristianismo como uma posição intermediária entre o monismo do AT e o dualismo persa e grego, classificando-o como semi-dualista. No contexto judaico-cristão vemos que o homem é punido pela sua desobediência à Deus, portanto Deus seria o responsável por uma série de males que acometeriam os “pecadores”.

Como fazer a injunção de um Deus bom e mal ser aceita pelos homens? Basta eliminá-la criando um antagonista tão poderoso e ardiloso, que suscite temor e ódio. Assim surgiu o Demônio, basicamente poderíamos dizer que ele é um recurso retórico de estilo. Vista a evolução da história do escravo negro no Brasil, é fácil admitir que variadas manipulações em face de ignorância, medo do desconhecido, preconceito e manutenção do monopólio de autoridade religiosa, fizeram com que a Igreja Católica e o Status Quo associassem a figura de Exu ao Diabo e consequentemente ao mal.

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