quarta-feira, 2 de março de 2011

Exu pede passagem!!!


Há pouco me caiu nas mãos o livro de Muniz Sodré, O terreiro e a cidade (SODRÉ, MUNIZ, O Terreiro e a Cidade, Petrópolis, Vozes, nº 14, 1987), através de sua leitura por sinal muito agradável, tive o prazer de me reapropriar de conceitos sobre minha própria ancestralidade e redimensionar minha atuação de resistência dentro da cultura brasileira – redimensionamento trabalhado dia a dia em busca de contribuir para uma igualdade simbólica no imaginário nacional. Pensar a importância e a formação da resistência simbólica e cultural dos descendentes de escravos e o valor das manifestações religiosas enquanto forma de assegurar o patrimônio de origem africana e sua manutenção no contexto da diversidade étnica brasileira, requer uma consideração acerca do universo étnico dos candomblés que vai além da presença única de negros – o que demonstra a forte influência que essa cultura teve na formação da identidade nacional.
Parafraseando Muniz Sodré, diria que a busca da tradição cultural reterritolialisada precisa afirmar-se não como forma paralisante, mas como algo capaz de configurar a permanência de um paradigma negro na continuidade histórica. Isso evitaria distorções e aberrações etnocentristas, além de poupar os ouvidos de pessoas que como eu, trabalham no cruzamento de culturas, pois se não aconterão coisas como esta que aconteceu comigo outro dia: - entreguei um projeto da banda Exu do Raul no SESC CONSOLAÇÃO para tentar marcar uma apresentação e o rapaz que recebe os projetos me disse que música desse gênero não tocava no SESC, aí argumentei, mas e a Rita Ribeiro que está comemorando 7 anos do CD/Show Tecnomacumba no SESC ITAQUERA? Ele desconversou e falou volta aqui quando você tiver outro projeto, sem Exu ou outra coisa religiosa.
Esta é apenas uma das histórias, que quase todo dia ouço, em forma de besteiras suscitadas pelo preconceito e pela ignorância. Laroiê Exu, mojubá! Como escreveu a psicóloga social Mara Martins Passos na introdução do seu livro:
“Dedico meu trabalho a todos os excluídos, aos oprimidos, aos injustiçados e tristes. A todos aqueles que sofrem preconceito e a todos os que, por um ou outro motivo, carregam as sombras do mundo e das outras pessoas.
Guardo em meu coração a esperança de que EXU, o primogênito de Olorum, a grande força cósmica do movimento e da vida, possa ajudar a que um dia este mundo, tão cheio de contradições, venha a ser um lugar onde sejamos todos, incluídos.” In, Exu pede passagem, Ed. 3ª Margem, 2002.
Ouça a psicodeliacandomblaica do Exu do Raul:
www.bandasdegaragem.com.br/exudoraul

Um comentário:

  1. Nunca havia lido este comentário, tão oportuno e tão bem escrito! O autor cita meu
    nome e um texto do livro. Fiquei tão feliz e orgulhosa! Isto porque ele é único, nunca
    havia visto alguém falar de forma tão carinhosa a respeito do meu livro. Muito obri-
    gada, Sr. Exu Kapetta! Por favor, dê uma olhada no meu blog e no meu facebook.
    Infelizmente, por razões que eu mesma não entendi, a primeira edição esgotou-se
    e eu providenciei a reimpressão do livro. Mas a Editora Terceira Margem impediu, não sei porque, a redistribuição do livro.

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